sábado, 18 de junho de 2016

10 anos


Hoje não é um dia que eu goste de lembrar. Há exatos 10 anos as coisas começaram a mudar e confesso estar desapontado por elas ainda estarem da mesma maneira, ou até pior.

Quanto tudo começou a acontecer, todos imaginávamos que seria algo passageiro, apenas uma fase, mas não. Os anos foram passando e dia após dia, mês após mês, ano após ano, nada mudou. Muitos ainda me dão esperanças, apoio e conforto, dizem que não se deve desistir, que acreditar é importante e que tudo vai sim melhorar.

Já li muita coisa, busquei especialistas no assunto, palestras… Porém, a verdade é que hoje eu vejo o fundo do poço e não encontro maneiras de melhora. Pelo contrário, muita coisa ficou ainda pior com o passar dos anos e isso é extremamente difícil de admitir, mas necessário. Acredito que somente assim, desabafando, as coisas podem começar a melhorar, se é que isso ainda é possível.

Enfim, é triste e lamento muito que após 10 anos da perda da Copa do Mundo de 2006 as coisas ainda estejam assim no futebol brasileiro, com a nossa seleção passando tanta vergonha no cenário mundial. 

Desculpem o desabafo.

sábado, 14 de novembro de 2015

Uma noite quase perfeita


Há cerca de um ano fiquei sabendo que o Pearl Jam faria um show em Porto Alegre. Minha banda favorita no estádio do meu time, a combinação perfeita. Prontamente comprei ingressos e apenas aguardei a data chegar. No último dia 11, lá fui eu para o show. Como já havia ido inúmeras vezes a jogos do Grêmio, sei bem que o estádio é completamente acessível, com vagas de estacionamento, banheiros... tudo perfeito. Sempre que fui, tudo funcionou 100% bem. Jamais tive dificuldades. Porém, jogos são organizados pelo clube, ao contrário dos shows e aqui vale o alerta.

Ainda na época em que comprei os ingressos, tentei adquiri-los numa área onde sempre vou para ver os jogos, pois sabia que era um espaço perfeito e destinado para cadeirantes. O preço naquele setor era de R$ 300. Salgado, mas como era uma área ideal para cadeirantes, comprei, mesmo sem saber se no show, aquela seria uma das áreas destinadas aos portadores de necessidades especiais.

Passados alguns dias, a consciência pesou e resolvi ligar para o site onde comprei os ingressos e comunicar que eu era cadeirante e havia comprado ingressos para aquele setor. Minha pulga atrás da orelha estava certa, fui informado que cadeirantes somente poderiam comprar ingressos para a pista, ou seja, no gramado. Informei que seria ruim ficar lá, por inúmero motivos, mas não adiantou. Tive que devolver os ingressos já comprados e comprar novos ingressos para a pista, bem mais baratos, R$ 150 cada, mas sabia que não teria as mesmas facilidades de acesso. Porém, a atendente me garantiu o contrário então, tudo bem.

Chegado o dia do show, lá fui eu rumo a Arena. Como sempre faço, comprei vaga no estacionamento dentro e embaixo do estádio. É perfeito, fácil de chegar e muito seguro.  Mas quando tudo vai bem demais, sempre tem que vir alguém pra dificultar, afinal, qual a graça em ser tudo perfeito? Bom mesmo é atrapalhar e nós brasileiros somos mestres nisso. Se está tudo bem, funcionando, vamos bagunçar! Ao descer do carro, como disse, já dentro do estádio e no nível do gramado onde era meu setor, fomos informados que deveríamos sair do estádio, subir uma rampa no meio de milhares de pessoas e entrar novamente no estádio pelo andar de cima. Sim, foi isso mesmo que você leu.

Um funcionário até se deu conta do absurdo que seu colega havia nos pedido e tentou "burlar" a regra e me levar ao setor que era ali ao lado, afinal estávamos há menos de 50 metros do lugar marcado nos ingressos. Porém, não teve jeito, a regra estúpida e absurda prevaleceu e lá fomos nós. Saímos do estacionamento e enfrentamos a multidão (vocês não fazem ideia como é ruim andar com uma cadeira de rodas no meio de milhares de pessoas indo e vindo pra todos os lados). Mesmo assim, subimos a rampa e ao chegar no andar de cima logo apresentamos os ingressos a um fiscal e adivinhem o que nos disseram? "Não, senhor. Vocês tem que descer, a entrada para este setor é lá por baixo"

Como paciência tem limite, expliquei o ocorrido e disse que agora eu entraria por ali nem que fosse o último ato da minha vida. Não estava disposto a andar sequer um metro para procurar outra entrada. Ou entrava por ali ou eles veriam pela primeira vez a Pomba Gira baixar num cadeirante. Após informá-los disso, o desespero ficou visível no rosto dos desorganizadores do evento, walk talkies a todo vapor e uma correria que não acabava mais. Um bombeiro que fazia a segurança do evento logo viu a confusão, se aproximou e resolveu tomar as minhas dores. Se propôs a ajudar e disse que era pra ficar tranquilo que eu iria entrar por ali mesmo. 

Após meia hora finalmente me deixaram entrar, na verdade o bombeiro, indignado, quase que me fez entrar a força, saiu empurrando a cadeira sem muitas explicações. Porém, como meus ingressos eram para a pista, eles obviamente não foram aceitos nas catracas em que estávamos, que por uma incrível coincidência eram as do setor de R$ 300 que eu queria ter ficado e não me deixaram comprar. Resultado, ao entrar por ali, obviamente não havia como eu descer para a pista (sim, também não permitiram que eu usasse os elevadores), então acabei ficando ali mesmo, num setor bem mais caro e sem usar ingresso algum dos que eu havia comprado.

Ou seja, por uma simples falta de bom senso da organização do show, eles criaram uma enorme confusão e ainda saíram no prejuízo. Eu havia combinado de encontrar com outras pessoas no setor em que deveria ter ficado e infelizmente não foi possível. Tenho certeza que não fui o único a passar por isso. Quanto ao show, foi incrível. Apesar dos pesares, o lugar em que ficamos estava perfeito e tudo deu certo. Porém, com só um pouquinho de boa vontade, tudo teria sido bem mais fácil. Afinal, pouco adianta ter um estádio 100% acessível, com banheiros, rampas, elevadores, mas com pessoas sem o menor preparo para auxiliar e/ou sem saber como utilizar os equipamentos disponíveis.

É fácil fazer as coisas funcionarem, basta querer e ter o mínimo de bom senso.